Como tomar a Levodopa na doença de Parkinson?

A levodopa ainda é o tratamento mais potente para os sintomas da doença de Parkinson já inventado! Mas não existe só um tipo de levodopa. Por isso, vou explicar melhor sobre cada um dos tipos, ou formulações, disponíveis.

Por ser o tipo mais comumente comercializado no Brasil, e por ser o com mais formulações, falarei especificamente do Prolopa. Importante frisar que, para fazer este texto, não recebi qualquer incentivo financeiro ou de outra natureza por parte das empresas responsáveis pela comercialização do Prolopa. O objetivo desse texto é o de educação em saúde. 

Ao prestarem atenção, vão notar que o Prolopa não é só levodopa; é levodopa com benserazida. Mas o que é a benserazida? Essa é uma substância que ajuda com que a levodopa seja usada só pelo cérebro, aonde queremos o efeito dela, e não pelos outros órgãos do corpo. 

Antes de qualquer outra coisa, é importante frisar alguns conceitos fundamentais:

  1. A levodopa deve ser tomada com um pouco de água, nunca “a seco”. Assim, ela chegará mais rápido no local do nosso tubo intestinal em que é absorvida!
  2. A levodopa é mais bem absorvida quando o paciente está de estômago vazio. Alimentos, principalmente proteínas, atrapalham a absorção da levodopa, e podem diminuir seu efeito! A orientação oficial é tomar a levodopa ou 30 min antes das refeições ou 60 min após as refeições.
  3. Sempre tome a levodopa exatamente nos horários em que sua médica orientou. Diferentemente da maioria das medicações, a levodopa não deve ser tomada de 8/8h ou de 6/6h, mas os horários das tomadas, assim como as doses de cada tomada, devem ser cuidadosamente pensados para cada paciente, com uma medicina de precisão. Por isso, cada esquema de levodopa é único, levando em conta a rotina do paciente e seus horários de refeição, e não deve ser copiado por outras pessoas. Da mesma forma, o paciente nunca deve modificar seu esquema por conta própria, quer sejam os horários, a formulação ou a dose, sem orientação neurológica.

Existem, atualmente, 5 formulações disponíveis de Prolopa no mercado. Falarei um pouco de cada uma delas. 

  • Prolopa 200/50, ou standard: É a formulação mais comumente utilizada. Contém 200mg de levodopa em um comprimido cor-de-rosa e bi-sulcado, ou seja, que pode ser cortado em até 4 pedaços. Ao tomar o remédio (caso o faça com água e de estômago vazio), a pessoa costuma começar a sentir o efeito após 30 ou 40 min. A duração desse efeito é variável: no início da doença de Parkinson pode durar muito tempo (cerca de 5 – 6h), mas, conforme a doença progride, a duração desse efeito geralmente vai ficando cada vez menor. Esse fenômeno, chamado de “encurtamento de dose”, ou “wearing-off”não é um reflexo do corpo se acostumando com a levodopa. Ele acontece até em pacientes que não tomam levodopa, e é causado pela própria progressão da doença.
  • Prolopa 100/25 BD:Esse comprimido contém 100mg de levodopa, e é rigorosamente idêntico à metade do comprimido de Prolopa 200/50! Inclusive esse “BD” que tem no nome significa Baixa Dosagem. Essa formulação foi pensada para aqueles pacientes que tomavam metade do comprimido de Prolopa 200/50, e não gostavam de ficar cortando o comprimido. Apesar disso, o comprimido de Prolopa 100/25 BD também é bi-sulcado e pode ser cortado em 4 pedaços. É a formulação mais comumente utilizada em pacientes que tem doença de Parkinson há pouco tempo.
  • Prolopa 100/25 HBS:  Ao contrário das outras duas formulações, que eram comprimidos, essa formulação é uma cápsula. Por isso, não pode ser cortada! Contém 100mg de levodopa e, apesar de ser 100/25 como o Prolopa BD, é muito diferente. O Prolopa HBS tem um efeito que demora mais para começar, mas também dura mais tempo. Apesar disso, sua absorção no intestino não é regular, é errática. Por isso, geralmente não deixamos o Prolopa HBS para o paciente com Parkinson tomar ao longo do dia. O Prolopa HBS é usado principalmente para ser ingerido à noite, antes de dormir, quando 1) o paciente tem sintomas de travamento durante a noite, como dificuldade de se virar na cama, ou dificuldade de levantar para urinar, ou 2) quando o paciente acorda muito travado pela manhã. 
  • Prolopa 100/25 dispersível: outro 100/25! Por isso é muito importante prestar atenção no “sobrenome” do Prolopa! Essa formulação é novamente um comprimido, dessa vez com apenas um sulco (só pode ser cortado em 2 pedaços). E, diferente dos outros, que são comprimidos para colocar na boca e engolir com água, a formulação dispersível deve ser primeiro colocada em um copo com um pouco de água. Essa formulação dissolve na água. Após dissolvido o comprimido, o paciente toma a água. A grande vantagem dessa formulação é o tempo até o início da ação, que é muito rápido. Todavia, a duração do efeito também é rápida. Essa é uma formulação para destravar rapidamente o paciente em algumas situações: 1) quando o paciente trava inesperadamente, e está em uma situação que não consegue esperar 30-40min para o Prolopa standard ou BD fazer efeito, ou 2) quando o paciente acorda muito travado pela manhã, e não pode esperar 30-40min para o Prolopa standard ou BD fazer efeito. Devemos evitar o uso indiscriminado de qualquer Prolopa, em especial do Prolopa dispersível, porque, se usado indiscriminadamente, essa formulação pode acelerar o aparecimento de flutuações motoras (discinesais e encurtamento de dose).
  • Prolopa 200/50 DR: é a formulação “Dual Release”, ou de liberação dupla. Na prática, isso significa que é uma formulação com início de ação rápido, ao mesmo tempo em que tem duração de efeito prolongada. Diferente do Prolopa HBS, o Prolopa DR não tem absorção errática, e pode ser tomado ao longo do dia, assim como à noite antes de dormir. 

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Até a próxima!