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Diagnóstico da Doença de Parkinson: estudos trazem esperança

Estudos trouxeram novas perspectivas sobre um diagnóstico precoce da doença de Parkinson a partir da proteína alfa-sinucleína; veja os detalhes

A proteína alfa-sinucleína é um dos principais biomarcadores da doença de Parkinson. (Imagem: DC Studio/Freepik)

Desde 2023, avanços importantes são publicados sobre o diagnóstico da Doença de Parkinson e outros tipos de parkinsonismo. Esses estudos trouxeram uma nova forma de identificar precocemente a condição, a partir da proteína alfa-sinucleína presente em nosso corpo. 

Eu te explico tudo. Continue a leitura!

Como é feito o diagnóstico da Doença de Parkinson hoje?

Antes de explicar essa novidade, é preciso revisar como funciona, atualmente, o diagnóstico da doença de Parkinson e por que esses estudos são tão relevantes.

Hoje, o diagnóstico da doença é feito com base em critérios clínicos, estabelecidos e constantemente atualizados pela Movement Disorder Society, em português, Sociedade de Distúrbios do Movimento.

Esses critérios consideram alguns sintomas motores e não motores que o paciente tem, além do tempo de evolução desses sintomas. A partir disso, o profissional, de preferência um neurologista especialista em distúrbios de movimento, consegue dizer se o paciente tem ou não a doença de Parkinson. 

Até o momento, não existe um exame de sangue ou de imagem que confirme a doença. Ou seja, o diagnóstico é feito, exclusivamente, a partir dos critérios clínicos, interpretados pela experiência clínica do neurologista.

O papel da proteína alfa-sinucleína no diagnóstico

A alfa-sinucleína é uma proteína produzida naturalmente pelo corpo e presente no sistema nervoso, tanto central quanto periférico. Quando dobrada corretamente, como se fosse um origami, cumpre bem suas funções no corpo.

No entanto, em pessoas com doença de Parkinson e alguns outros parkinsonismos, essa proteína pode se dobrar de maneira anormal. Quando isso acontece, a proteína não consegue ser expelida pela célula e acaba se acumulando e formando emaranhados mais conhecidos como corpos de Lewy. 

Esse é um dos principais biomarcadores da doença. Ou seja, esses emaranhados são identificados no cérebro de pacientes com doença de Parkinson, atrofia de múltiplos sistemas ou demência por corpos de Lewy.

E o que mostram os novos estudos sobre a alfa-sinucleína?

Duas pesquisas de grande impacto publicadas na Lancet Neurology e na Nature Medicine exploraram formas de detectar a alfa-sinucleína anormal, ou dobrada incorretamente.

O primeiro estudo, da Lancet Neurology, avaliou uma forma de detecção no líquor, um líquido presente na espinha. Nele, 1.123 pessoas fizeram parte, tanto pacientes com doença de Parkinson quanto voluntários saudáveis.

Falando em números, esse estudo demonstrou uma sensibilidade de 87,7% na hora de diferenciar a doença de Parkinson de pessoas saudáveis. No caso de pessoas com doença de Parkinson que tinham alteração de olfato, essa sensibilidade aumentava para 98,6%. Além disso, a especificidade para diferenciar Parkinson do público saudável foi de 96,3%.

Ou seja, o ensaio da Lancet Neurology comprovou uma grande sensibilidade e especificidade na hora de diferenciar pessoas com doença de Parkinson de pessoas saudáveis.

(Imagem: Assessment of heterogeneity among participants in the Parkinson’s Progression Markers Initiative cohort using α-synuclein seed amplification: a cross-sectional study – Siderowf, Andrew et al. The Lancet Neurology, Volume 22, Issue 5, 407 – 417.)

Já no segundo estudo, da Nature Medicine, os pesquisadores conseguiram uma técnica para identificar a proteína alfa-sinucleína anormal pelo sangue, que tem uma coleta mais fácil e menos invasiva do que a do líquor.

Com esse exame, eles conseguiram, além de diferenciar a pessoa com doença de Parkinson de pessoas saudáveis, distinguir pessoas com Atrofia de Múltiplos Sistemas (AMS) de pessoas saudáveis e, também, de pacientes com Parkinson. 

Tanto a Atrofia de Múltiplos Sistemas quanto a doença de Parkinson têm como marcador os corpos de Lewy, aquele acúmulo da proteína alfa-sinucleína dobrada de maneira anormal. Apesar dessas doenças não serem idênticas, é comum, às vezes, ser um desafio diferenciá-las no diagnóstico. Por isso, o resultado desse ensaio é importantíssimo, especialmente para a comunidade médica.

(Imagem: Okuzumi, A., Hatano, T., Matsumoto, G. et al. Sementes propagativas de α-sinucleína como biomarcadores séricos para sinucleinopatias. Nat Med 29 , 1448–1455 (2023). https://doi.org/10.1038/s41591-023-02358-9)

O que tudo isso significa?

É importante ressaltar que esses testes são recentes e ainda não estão disponíveis na prática clínica. Hoje, o padrão-ouro de diagnóstico em vida continua sendo o diagnóstico clínico feito pelo neurologista especialista.

Mas esses estudos trazem esperança para a possibilidade de diagnosticar, cada vez mais cedo, pessoas com doença de Parkinson, Atrofia de Múltiplos Sistemas e até mesmo demência por corpos de Lewy. 

Além disso, com esse diagnóstico precoce, seria possível incluir pacientes em fases iniciais da doença de Parkinson em estudos clínicos. Isso abre caminho para novos testes de tratamentos que antes não mostraram eficácia, mas que, talvez, funcionem se forem aplicados em fases muito precoces da doença. 

Resumidamente, tudo isso nos fornece um passo gigantesco na ciência em busca da cura da doença de Parkinson e de outros tipos de parkinsonismo.

Mas, enquanto esses exames não são aplicados na prática, sabemos que, apesar de ainda não haver cura, há tratamento e qualidade de vida na doença de Parkinson. Por isso, seguir a rotina de atividade física, alimentação e controle clínico continua sendo necessário.

Em vídeo: Novos exames trazem esperança para o diagnóstico precoce de Parkinson?

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