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Como as pessoas com Parkinson devem se alimentar?

A nutrição desempenha um papel importante na vida de pessoas com doença de Parkinson, tanto para a manutenção da saúde quanto para potencializar o tratamento.

Antes de mais nada, vale deixar um ponto claro sobre esse assunto: não vou entrar aqui em detalhes sobre as dietas que podem prevenir ou reduzir o risco de uma pessoa desenvolver a doença de Parkinson. O foco aqui é outro: o que realmente importa na alimentação de quem já convive com a doença. Então, vamos lá?

A importância da alimentação em pessoas com Parkinson

Estudos recentes mostram que pessoas com doença de Parkinson, de forma geral, tendem a se alimentar de maneira menos saudável do que quem não tem a doença. Essa alimentação costuma ser mais rica em carboidratos, açúcares e gorduras trans, presentes em alimentos ultraprocessados.

Além disso, pessoas com doença de Parkinson também têm uma maior tendência à deficiência de vitaminas como B12, B6 e ácido fólico. Muitas vezes, uma pessoa com alimentação equilibrada e sem problemas gastrointestinais consegue manter níveis adequados dessas vitaminas apenas pelos alimentos que consome no dia a dia. Quando dosagens periódicas mostram deficiência de vitaminas, a suplementação é necessária. Não há, no entanto, evidência de ser benéfico suplementar vitaminas sem que haja deficiência.

O momento certo de se alimentar e a medicação

Medicamentos e alimentação na doença de Parkinson (Imagem: Freepik)

Mais do que observar apenas o que vai ao prato de uma pessoa com doença de Parkinson, é essencial prestar atenção quando as refeições acontecem. Isso porque a principal medicação utilizada no tratamento da doença de Parkinson, a Levodopa (conhecida como Prolopa, Ekson, e outras marcas), tem sua absorção afetada pela presença de alimentos no estômago.

Ou seja, ela é melhor absorvida quando é ingerida longe das refeições. O ideal é tomá-la:

  • 30 minutos antes das refeições, ou
  • 60 minutos depois de comer.

O componente da nossa dieta que mais afeta a absorção da Levodopa são as proteínas.

Então, se a pessoa com doença de Parkinson comer uma quantidade grande de proteína e, logo em seguida, tomar um comprimido de Levodopa, esse medicamento não vai ser bem absorvido e não vai fazer o efeito esperado sobre os sintomas.

Agora, cuidado! Isso não quer dizer que pessoas com doença de Parkinson devem reduzir o consumo de proteínas global ao longo do dia, pois isso pode levar à perda de massa muscular, algo que prejudica a mobilidade, o equilíbrio e a sua própria nutrição.

Diante disso, a recomendação é pedir para o paciente ter o cuidado de tomar a Levodopa longe das refeições e, em raríssimos casos, a gente redistribui as proteínas ao longo do dia.

Prisão de ventre e nutrição

Outro cuidado importante que pessoas com doença de Parkinson precisam ter é em relação à prisão de ventre, um sintoma extremamente comum.

A doença de Parkinson causa uma lentificação global em todos os movimentos da pessoa, inclusive nos movimentos intestinais.

Além disso, a prisão de ventre também está relacionada a uma menor nutrição, a um menor índice de massa corpórea e a piora dos sintomas da doença de Parkinson, já que ela também interfere na absorção da Levodopa. 

Por isso, é muito importante que pessoas com doença de Parkinson prestem bastante atenção em ter uma dieta que ajude a soltar o intestino. Para melhorar o trânsito intestinal, recomenda-se:

  • Ingestão abundante de água – principal ponto!
  • Consumo de carboidratos integrais, como arroz integral, pão integral, aveia e fibras de uma forma geral, que podem ser encontrados em frutas, legumes e verduras.
  • Praticar exercício físico
  • Consumo adequado de cafeína

Um ponto importante sobre a cafeína

A cafeína não está presente apenas no café, ela também aparece em chás e outros alimentos. Estudos sugerem que seu consumo pode estar associado não só a um risco menor de desenvolver Parkinson, mas também a uma melhor evolução da doença em quem já convive com ela e, pode inclusive, ajudar no funcionamento do intestino.

Mas atenção: o consumo deve ser individualizado, e exagerar não traz benefícios. Não adianta tomar dezenas de xícaras por dia, isso pode gerar outros problemas de saúde, ou seja, o ideal é manter um consumo moderado.

Tipos de dietas estudadas para pessoas com Parkinson: mediterrânea e cetogênica

Tipos de dieta na doença de Parkinson (Imagem: Freepik)

Existem dois tipos específicos de dieta que são mais estudados em pessoas com doença de Parkinson, a dieta mediterrânea e a dieta cetogênica. A dieta mediterrânea é uma dieta que é rica em:

  • peixes, 
  • azeite de oliva, 
  • frutas, legumes e verduras frescos, 
  • oleaginosas como castanhas, macadâmia e nozes.

Nela, evita-se o consumo de alimentos processados ou ultraprocessados, de carne de porco, carne de vaca e carne de frango. 

Existem alguns estudos que já mostraram que a dieta mediterrânea pode ser associada a uma progressão melhor da doença de Parkinson.

O mesmo se aplica para a dieta cetogênica, que é uma dieta mais focada em proteínas e, principalmente, em gorduras, e ela tem uma restrição muito grande de carboidratos. No entanto, a dieta cetogênica, além de ter uma evidência mais fraca de benefício em relação à dieta mediterrânea, também é uma dieta muito mais difícil de ser seguida por ser extremamente restritiva, o que pode piorar a qualidade de vida da pessoa com doença de Parkinson. 

A importância do acompanhamento multidisciplinar

Já deu para perceber que os aspectos nutricionais são fundamentais para quem tem doença de Parkinson, não é mesmo? Por isso, eu oriento grande parte dos meus pacientes a fazerem acompanhamento regular com um nutricionista, de preferência com experiência no cuidado de pessoas com Parkinson.

Isso é ainda mais importante quando o paciente deseja seguir dietas restritivas ou alternativas, como:

  • Ser ou se tornar vegano
  • Testar a dieta cetogênica

O acompanhamento profissional garante que a dieta seja segura, equilibrada e adequada às necessidades específicas de cada pessoa.

Pra fechar, um outro ponto muito específico, que não tem a ver especificamente com dieta, mas é extremamente importante, é o acompanhamento com fonoaudiólogo. Pessoas com doença de Parkinson, com o passar do tempo, podem ter dificuldade de engolir, que a gente chama de disfagia, e isso pode favorecer a desnutrição e fazer com que pequenas partículas de comida vão parar no pulmão podendo causar quadros de pneumonia.

Assim, um acompanhamento com fonoaudiólogo desde o início do diagnóstico é extremamente importante para pessoas com doença de Parkinson. 

E aí, você já conhecia todas essas curiosidades sobre nutrição em pessoas com doença de Parkinson? 

Se você ficou com alguma dúvida, deixe aqui nos comentários. E até a próxima!

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