Afetando principalmente os membros superiores, o tremor essencial é um dos distúrbios de movimento mais comuns

Um dos distúrbios de movimento mais comuns em todo o mundo é o chamado Tremor Essencial. A principal manifestação da doença é, de fato, o tremor, como o próprio nome diz.
Continue aqui comigo para entender mais sobre o tremor essencial, bem como suas características, diagnóstico e tratamentos.
O que é tremor essencial e quais são os seus sintomas?
O tremor essencial é uma doença que causa tremor, ou agitação rítmica, geralmente dos membros superiores do corpo, como as mãos e os braços.
É um tremor que vai aparecer, principalmente, na postura, ou seja, quando o paciente segura os membros contra a gravidade, colocando as mãos para cima, por exemplo. Entretanto, ele também aparece durante o movimento, como no momento em que a mão se aproxima do alvo.

Vamos pegar como exemplo o ato de servir um café. Quando a garrafa está chegando perto da xícara, é quando o tremor fica mais intenso. Assim como quando a xícara está chegando perto da boca.
No entanto, o tremor essencial tem outra característica, um tanto curiosa. O paciente consegue amenizá-lo quando segura um objeto com as duas mãos ao invés de uma. Isso acontece porque o tremor da doença é caracterizado como “fora de fase”, ou seja, um lado do corpo não está sincronizado com o outro lado.
Então, quando o paciente segura um objeto com a mão que está tremendo e coloca, junto, a outra que tem um tremor fora de fase, o tremor de um lado acaba segurando o do outro, facilitando, assim, algumas tarefas do dia a dia.
O diagnóstico do tremor essencial
Embora o tremor essencial não possua uma causa exata que seja conhecida e também não tenha um gene específico para sua existência, é comum a doença passar de geração para geração.
Inclusive, segundo dados do National Institute of Neurological Disorders and Stroke (NIH), o tremor essencial pode ser hereditário em 50 e 70% dos casos.
Mas é importante tomar cuidado! Não ter um histórico familiar positivo não invalida o diagnóstico de tremor essencial.
Outro fator que contribui muito na investigação da doença é a região do corpo afetada pelo tremor. O tremor essencial vai, obrigatoriamente, atingir de forma predominante os membros superiores. Contudo, ele pode se manifestar em outras partes do corpo. É aqui que a pegadinha pode acontecer. Cabeça (em um movimento de “não-não” ou “sim-sim”), voz e pernas também podem ser afetadas com a evolução da doença.

O diagnóstico do tremor essencial é clínico. Isso significa que a pessoa precisa ter um tremor com uma duração maior do que três anos, que afete membros superiores, com ou sem outras partes do corpo, e sem outras alterações neurológicas dignas de nota.
Pode até parecer que o diagnóstico da doença é simples, mas não funciona assim. Eu, inclusive, já vi vários casos de diagnóstico errado, em que o paciente chegou a fazer a cirurgia para melhorar o tremor, mas, na verdade, tinha a Doença de Parkinson.
Diante de cenários assim, é fundamental, então, que o paciente passe por uma consulta com um neurologista especialista em distúrbios de movimento para descartar as outras opções neurológicas. Também é importante que a pessoa faça uma ressonância ou uma tomografia para um diagnóstico ainda mais preciso.
A título de curiosidade, outra característica do tremor essencial é que, em alguns casos, ele pode melhorar com o uso de bebida alcoólica. Claro que o consumo não vai ser usado para o tratamento, mas é uma dica importante que ajuda no diagnóstico. No entanto, não ver melhora do tremor com o álcool não significa que não seja o tremor essencial, já que essa característica não está presente em todos os casos.
O tremor essencial apresenta estágios?
Apesar da doença ter uma evolução lenta, a depender da gravidade de cada paciente, é possível classificá-la em leve, moderada e grave, considerando o impacto que o tremor está causando nas atividades diárias do paciente.
No estágio leve, os tremores estão presentes, mas não interferem na rotina. Além disso, geralmente são mais sutis, se intensificando somente em momentos de estresse ou de movimentos intencionais.
Já no estágio moderado, os tremores se intensificam um pouco mais, começando a afetar algumas atividades diárias. Aqui, habilidades como desenhar, escrever ou até mesmo usar utensílios podem ficar mais difíceis de serem realizadas.
Por fim, no estágio grave, os tremores são bem presentes e constantes, afetando consideravelmente as atividades de rotina que passam a exigir mais coordenação e se tornam desafiadoras.

Mas é importante reforçar que nem todo paciente vai passar por todos esses estágios da mesma forma. Tudo vai depender da evolução do caso, que deve ser analisado individualmente.
Como é o tratamento do tremor essencial?
Ao pensarmos no tratamento para o tremor essencial, antes de tudo, é preciso definir com o paciente se a condição precisa mesmo ser tratada ou não. Isso porque vemos muitas pessoas que não se incomodam com a doença, por não afetar a sua qualidade de vida. Então, nesses casos, não há a necessidade de realizar um tratamento.
Em contrapartida, se a doença incomoda a pessoa a ponto de prejudicá-la no dia a dia, a primeira linha de tratamento que precisa ser pensada é a de medicações.
Apesar de existirem vários remédios disponíveis para o tremor essencial, cada tratamento precisa ser particular. Isso significa que é preciso sentar com o paciente, conhecer todo o seu caso, examiná-lo para entender o que ele faz da vida, quais são as suas principais demandas e quais são as maiores dificuldades para, assim, sugerir um cuidado adequado e baseado em todo o seu histórico.
Mas o tratamento não se limita aos medicamentos. Se o paciente já toma remédio, até mesmo em doses otimizadas e, mesmo assim, o tremor continua afetando a sua qualidade de vida, essa é a hora de pensar em alternativas cirúrgicas.
Tratamentos cirúrgicos para o tremor essencial
Existem dois tipos principais de cirurgias para o tratamento do tremor essencial: a que faz uma pequena lesão controlada na via do cérebro que está hiperativa; e a que vai modular essa via sem fazer a lesão.
No Brasil, as cirurgias que fazem essa lesão são as realizadas por radiofrequência, em que o neurocirurgião faz um buraquinho na cabeça do paciente e entra com o eletrocautério para queimar a parte do cérebro que se deseja modular. Há também a cirurgia com Gamma Knife, que também faz uma lesão, mas, nesse caso, de uma forma não invasiva.
Recentemente, chegou ao Brasil o Ultrassom Focado de Alta Intensidade, conhecido como HiFU, uma opção de lesão sem a necessidade de romper a pele. O procedimento é feito em uma máquina de ressonância magnética, com a equipe vendo, em tempo real, os resultados passo a passo.
Atualmente, o HiFU é considerado a opção cirúrgica por lesão mais segura e eficiente. Apesar disso, é um tratamento que pode ser feito, por enquanto, somente em um lado do cérebro e, portanto, melhora o tremor em apenas um lado do corpo.
Agora, a cirurgia que vai modular sem fazer uma lesão é a chamada DBS (do inglês Deep Brain Stimulation), ou Estimulação Cerebral Profunda, em tradução livre.
Nessa cirurgia, são inseridos no cérebro da pessoa dois chips pequenos, de 7 a 10 mm e com formato cilíndrico. Esses chips, também chamados de eletrodos, são colocados na parte dessa via que está hiperativa — a mesma via que nas outras cirurgias é queimada ou lesionada.
Com esse chip instalado no cérebro do paciente, o neurologista especialista em distúrbios de movimento consegue controlá-lo usando um tablet e, assim, modular essa via, aumentando ou diminuindo a inibição para mudar o formato da corrente e melhorar o tremor.
O interessante é que a cirurgia de DBS oferece uma melhora de, em média, segundo a literatura médica, 70% no tremor essencial, cerca de um ano depois da sua realização, se mostrando mais eficaz do que as medicações para o tratamento que, em média, oferecem melhora de 50%.
Outra grande vantagem é que, diferente das cirurgias que fazem uma lesão, a cirurgia de DBS pode ser feita dos dois lados do cérebro ao mesmo tempo, melhorando, assim, o tremor dos dois lados do corpo.
Mas lembre-se que, para que essa cirurgia tenha um resultado de sucesso, é preciso que:
- o paciente passe por uma consulta com neurologista especialista em distúrbios de movimento;
- o diagnóstico de tremor essencial esteja correto, com os critérios de indicação para cirurgia;
- o procedimento seja feito por um neurocirurgião funcional com experiência em DBS;
- o aparelho seja bem programado.
Caso haja alguma falha nessas etapas, o paciente pode não ter melhora no tremor, tornando o procedimento ineficiente.

Qual a diferença entre o tremor essencial e a doença de Parkinson?
Na Doença de Parkinson (DP), o tremor se torna mais evidente quando as mãos do indivíduo estão em repouso, diferentemente do tremor essencial, em que o tremor é mais intenso quando a pessoa realiza algum movimento.
Além disso, como comentei no tópico sobre os sintomas do tremor essencial, em alguns casos, ao segurar um objeto com as duas mãos, o paciente consegue amenizar o tremor porque um lado do corpo não está sincronizado com o outro. Isso difere na Doença de Parkinson, uma vez que o tremor dos dois lados se encontra na mesma fase.
Vale destacar, ainda, que os sinais da DP também incluem lentidão dos movimentos, dificuldade em andar, rigidez, entre outros.

Apesar das diferenças e do tremor essencial ser muito mais comum do que a Doença de Parkinson, reforço, mais uma vez, a importância do diagnóstico preciso e individualizado, pois, mesmo assim, confusões podem acontecer.
Em vídeo: Tudo o que você precisa saber sobre Tremor Essencial
E aí, ficou mais fácil entender como o tremor essencial se comporta? Se ainda ficou com alguma dúvida, deixe aqui nos comentários!